1.
Agradeço o convite e enalteço o trabalho feito no NERGA e na
região da Guarda pelo Pedro Tavares ao longo dos 17 anos em que esteve como
vice-presidente e posteriormente como presidente do NERGA.
Manifestou uma dedicação inexcedível à
associação e ao associativismo empresarial, dispensando energia e tempo,
que talvez lhe tenha feito falta para a gestão das suas empresas. Energia e
tempo que poderiam ter sido utilizados no lançamento de novos negócios
foram dedicados à causa do associativismo. Por isso, o associativismo está-lhe
grato e reconhecido.
2.
Pedro Tavares pertence a uma geração de dirigentes que
introduziram inovação e alterações estratégicas no associativismo
empresarial:
·
Reforçaram a centralidade das empresas na economia e na sociedade.
·
Integraram o desenvolvimento regional na missão, programa e
atividades das associações.
·
Assumiram-se como atores de desenvolvimento regional,
dinamizando parcerias com as autarquias.
·
Iniciaram a aproximação das empresas às universidades, até
aí duas estruturas que não se conheciam.
·
Dinamizaram projetos estruturantes para as regiões.
·
Superaram a ausência de quadros técnicos com a criação de
escolas profissionais.
·
Criaram sociedades de garantia mútua, tão importantes que
foram nas duas crises que passámos.
·
Colocaram a internacionalização e o reforço da capacidade
exportadora
como um imperativo da sua atividade.
Foi a época
de ouro do associativismo, nomeadamente do associativismo regional.
Os desafios de hoje são
diferentes:
·
O
mercado associativo está pulverizado. Existem 1.064 Associações Empresariais
(AEs), resultando numa média de uma associação por cada 375 empresas, as quais
disputam a representação associativa.
·
O alheamento
das empresas e a falta de representatividade da maioria das AEs
obrigam-nos a refletir sobre a sua utilidade social, e sobre o valor
que criam nas empresas.
·
O nosso “core”
hoje é invadido por uma sobreposição de atividades e ações de confederações,
clusters, CIMs, Fundações, Universidades e organismos públicos.
O apoio às empresas na capacitação
de empresários e técnicos, no empreendedorismo, gestão dos incentivos
regionais, na internacionalização e na inovação, está a ser ocupado por
todas estas entidades, com uma resignação e inércia das AEs que me surpreende.
·
Todas
estas estruturas de intermediação entre sistemas de incentivos e empresas, têm acesso
a apoios de assistência técnica e investimento. Isto é, os CAPEX e OPEX
destas instituições são financiados a 100%.
·
As AEs
estão há 25 anos sem acesso direto a subvenções para qualificar os seus quadros
técnicos ou se renovarem tecnologicamente. E lamentavelmente, a mensagem que passa é que as AEs subsistem à
conta de subsídios de exploração.
Por tudo isto, precisamos de AEs com garra e determinação para
combater este estado de coisas.
3.
Entramos
numa nova fase.
O movimento atual é para direcionar a
nossa ação e atividade para:
·
Projetos
que tenham aplicação no “chão de fábrica” com efeito direto na
produtividade.
·
Utilizar
até ao último cêntimo os apoios para a digitalização do tecido
produtivo.
·
Capacitar
empresários e técnicos em novas competências digitais.
·
Reforçar
a ligação a universidades e laboratórios de investigação, mas com
exigências de se alterar a atual situação em que 80% é investigação fundamental
e 20% é investigação aplicada. Exige-se que a utilização de fundos estruturais
nestas valências esteja condicionada a candidaturas em co-promoção de
empresas e universidades.
·
Projetos
que reforçam a cooperação empresarial e o seu redimensionamento.
Acreditem, que não haverá alterações significativas na produtividade, inovação,
intensidade exportadora, e nos salários com a atual dimensão das empresas.
·
Conceber
e dinamizar a criação de instrumentos de financiamento. A Câmara
do Fundão criou com a Portugal Ventures um fundo de capital de risco
regional para as empresas. A AIP está a trabalhar na emissão de
obrigações grupadas para PME.
·
Dado o
brutal choque de seleção que irá ocorrer, irão aparecer fundos para a reestruturação
de empresas. Temos de lá estar e dinamizar a procura.
·
Aumentar
a capacidade negocial das PME na aquisição de energia e outras utilities, agregando consumos e leiloando-os.
·
Intermediar
e dinamizar a procura em processos de aquisição e fusão de empresas em
parceria com estruturas especializadas nestes domínios.
·
Dinamizar
a criação de estruturas de mediação e arbitragem.
·
Intervir
de forma moderada, mas atuante, em projetos piloto regionais na
produção de hidrogénio.
Esta é a nova fase na vida das AEs. Este é o desafio com que a equipa
do Orlando Faísca se vai confrontar.
4.
Terminaria
com alguns comentários sobre a situação atual.
Sobre a conjuntura económica comparada entre dezembro 2020 e dezembro
2019:
- Dimensão
económica
. Contração
histórica do PIB (-7,6%) regressando em volume ao ano de 2008.
. Queda das
exportações (-18%) e do investimento (-5%)
- Dinâmica
empresarial
. Taxa de
desemprego só cresceu 0,8% (+21 mil desempregados)
. Insolvências
decresceram (-8%) (600 insolvências)
. Dissoluções
ficaram em linha (-0,5%) (-menos 85 empresas)
CONCLUSÃO:
- A combinação
das medidas tomadas até dezembro 2020 - moratórias; lay-off; retoma
progressiva; diferimento de pagamento de impostos; financiamento linhas Covid –
e implementadas pelo governo, foram eficazes.
- Ponto de
inflexão de eficácia das medidas dá-se em novembro 2020
- Devíamos
também fazer quinzenalmente conferências de imprensa para avaliar a saúde da
economia.
- A escassez
dos apoios começa agora a revelar-se:
·
Portugal é o quarto pior da UE28. Concedeu em média apenas 23.636
€ por empresa
·
Atrás de Portugal, apenas a República Checa, Eslováquia e Croácia
·
Os números apontam para um crescimento de 22% das insolvências já
em fevereiro deste ano.
·
A degradação do balanço e da liquidez condicionam o acesso às
medidas.
·
O incumprimento fiscal e segurança social condicionam também o
acesso às medidas por parte das empresas.
·
Os juros das moratórias começaram a ser pagos este mês e irão
acentuar a degradação da tesouraria das empresas.
5.
Comentários finais:
·
No 1º trimestre de 2021 nota-se que se começou a privilegiar o
pagamento dos subsídios de desemprego em detrimento de salvar empregos. O
Estado deu uma garantia soberana à Efacec de 36 milhões de euros e recusa
disponibilizar 5 milhões para salvar a Dielmar.
·
Das linhas de financiamento, apenas se encontra em vigor a linha
ADN.
·
De entre os sistemas de incentivos verificamos que:
- +CO3SO – raras são as regiões que têm taxas
de aprovação razoáveis e termos de aceitação assinados.
- PAPN – não há ainda aprovações.
- Há NUTS II que lançam concursos sem
orçamentos disponíveis. É o caso da Contratação de Recursos Humanos
Altamente Qualificados, em que as empresas recrutaram doutorados e
mestrados a termo certo, e as candidaturas são indeferidas sem apresentarem
justificação substantiva.
·
Da mesma forma que a pandemia está longe de estar controlada,
também a fase de ajuda à resiliência às empresas não foi ultrapassada.
·
Daí que as moratórias, o diferimento das obrigações fiscais e
contributivas, lay-off e linhas de financiamento têm de continuar para evitar
que se agrave a situação que parece que é só percetível para quem assina
cheques e avaliza livranças.
José Eduardo Carvalho
Presidente da Direção da AIP
19.04.2021