O presidente da Direção da AIP, José Eduardo Carvalho, acompanhado pelos dirigentes Salomé Rafael, Pedro Faria e António Pedroso Leal, e por diretores e técnicos das áreas operacionais, visitou no dia 17 de abril o Grupo Couro Azul, em Alcanena, empresa cem por cento portuguesa na quarta geração, 85 anos de atividade na indústria de curtumes, com 690 trabalhadores, exportadora e fornecedora de grandes marcas dos sectores automóvel, ferroviário e aeronáutico que garantem 83% dos 80 M€ faturados em 23 mercados, valor a que se junta a moda (12%) e outros (5%).
"Esta visita insere-se no “Roteiro pela Indústria Transformadora do País”, uma iniciativa criada pela AIP que tem como objetivo reconhecer a qualidade de gestão e a competitividade das melhores empresas do setor industrial, bem como permitir o conhecimento pelos diretores operacionais da AIP da nova realidade deste setor", sublinhou o presidente da AIP.
Pedro Carvalho, presidente do conselho de administração da Couro Azul, recebeu a delegação da AIP, e, na presença de Bernardo Carvalho, administrador na quarta geração, e de Carlos Martinho, diretor financeiro, começou por recordar a génese do negócio, fundado em 1939 – ano marcado pelo início da Segunda Guerra Mundial – por António Nunes de Carvalho, “um exemplo de iniciativa e visão” na indústria dos curtumes.
As marcas de excelência e os elevados padrões de qualidade que a Couro Azul hoje exibe “são fruto da permanente pesquisa e investigação para o desenvolvimento de produtos e processos de fabrico inovadores e sustentáveis, e refletem os valores do seu fundador, que baseava o negócio na produção manual de curtumes de ovino e caprino, destinados à indústria do calçado”, acrescentou.
“À frente do seu tempo”, diz Pedro Carvalho, para registar uma inovação introduzida pelo avô António Carvalho: “Em 1950 foi uma das primeiras fábricas a instalar energia elétrica e maquinaria industrial”.
A Couro Azul processa 1300 peles por dia, provenientes de touros criados na Galiza, em Espanha, e no norte da Europa, em países como a Noruega, Alemanha e Holanda. As peles chegam a Alcanena no seu estado natural e passam por várias etapas – ribeira, curtume, tingimento e acabamento – antes de serem transformadas na pele que cobre o volante de um Porsche, de uma cadeira num comboio da CP ou num avião da TAP, ou ainda no guiador de um camião para captar os sinais vitais do motorista (CardioLeather – Couro-Inteligente para monitorização da saúde, bem-estar e segurança em veículos).
Outro exemplo de I&DT é o projeto RARISS – Raças Autóctones, Rastreabilidade, Inovação e Soluções Sustentáveis. O rastreamento da pele, e respetiva certificação, é feito desde o berço do animal, contemplando a sua origem, história e envolvente, até à transformação em produto e impacto também para a saúde humana e ambiente. Este registo do “adn” é essencial na economia circular e figura no rol das exigências das marcas internacionais clientes da empresa de Alcanena que apostam num novo modelo de negócios, denominado TraceLeather.
A “visão artificial”, por outro lado, é uma ferramenta em desenvolvimento para garantir uma aturada leitura da pele com vista a detetar o minúsculo defeito, sem menosprezo do processo manual, garantido por experientes olhos treinados.
A arte de curtir a pele neste titã da indústria de curtumes regressa às suas origens, ao recuperar a cápsula da bolota, rica em tanino, para obter um extrato natural e fazer um curtume vegetal, ou seja, isento de produtos químicos, já aprovado pela Mercedes Benz e pela Volvo. Esta pele, da linha designada por Oak Tann, reveste bancos, painéis, consola e volante.
“Este couro cumpre as mais exigentes especificações do setor automóvel, tem por base um curtume vegetal inovador especialmente desenvolvido, mantém a macieza e o toque de um couro premium, e garante ainda as necessárias resistências”, explica o CEO.
Resultado de um “intenso processo de desenvolvimento”, recorre a extratos vegetais sustentáveis retirados das cápsulas das bolotas: “O uso desses extratos não envolve a destruição de árvores nem compete com a indústria alimentar, pois os taninos são obtidos a partir de um subproduto da indústria alimentar animal”.
Comparando com outros métodos de curtume, Oak Tann utiliza menos derivados do petróleo e promove a conservação da floresta mediterrânica ao valorizar este ecossistema sem paralelo.
“O couro Oak Tann está em linha com os princípios da economia circular, dado que se trata de um sistema integrado de novas tecnologias no processamento da pele, mais sustentáveis, criando um processo global de resíduo zero”, precisa.
Dotado com um departamento de I&D, “altamente qualificado”, sublinha Pedro Carvalho, a Couro Azul “tornou-se numa das indústrias de curtumes mais inovadoras do mercado”. O representante máximo deste negócio familiar de quarta geração vai ainda mais longe ao indicar outros agentes que contribuem para a competitividade da indústria portuguesa como as universidades, os centros de investigação e empresas de produtos químicos que tornaram possível a concretização de etapas fundamentais na recente história da empresa alcanenense: 1996, tecnologia sem crómio – VW; 2000, couro antialérgico – standard Öko-tex; 2002, conceito Oak Leather – isento de metais pesados e crómio; 2006, couro para aviões – Airlys; 2008, couro para comboios – Trainlys; 2010, croute liso; 2014, couro para painéis de instrumentos e de porta; e 2016, couro leve.