Fundada em 28 de Janeiro de 1837, a AIP é uma das primeiras e mais relevantes manifestações de associativismo empresarial, numa época em que a indústria dava os primeiros passos em Portugal.

Empresários, negociantes e homens da ciência e cultura aderiram em peso ao novo movimento, ao qual se juntavam destacadas figuras da sociedade portuguesa.

Organizada pela sociedade civil, a Associação nasceu num período de expansão dos movimentos liberais, em pleno reinado de D. Maria II, a partir de uma burguesia rica, ativa e cultivada, com a perceção do atraso industrial do país e com projetos de desenvolvimento e competitividade.

Subscritos por 756 sócios, os estatutos foram aprovados pela Secretaria de Estado dos Negócios do Reino, com a assinatura do ministro Passos Manuel, um dos mais importantes governantes do primeiro liberalismo português oitocentista.

Os estatutos da AIP tinham como preocupações dominantes o desenvolvimento e a industrialização do país. Determinavam que os fundos que adquirisse destinavam-se a “adiantamentos aos acionistas que fossem fabricantes ou artistas e precisassem de meios para aumentar ou aperfeiçoar os seus estabelecimentos”, a “mandar vir de países estrangeiros máquinas que sirvam de modelo para a construção de outras, ou mestres que introduzam no nosso país alguma indústria nele desconhecida ou melhorem consideravelmente as já existentes” e para comprar “segredos industriais importantes”. Mais tarde, também foi incluída a compra de ações.




Blog Article Figure
Estatutos da AIP. D. Maria II. Passos Manuel

O documento prevê ainda que “haverá, em Lisboa, uma exposição anual dos produtos da nossa indústria; promover-se-ão feiras patrióticas em qualquer parte do Reino; e pela imprensa se publicarão os mais notáveis factos de cultura e melhoramento das artes”.

A génese da AIP esteve condicionada pela envolvente política. A ditadura de Costa Cabral silenciou as tentativas de mudança radical da sociedade portuguesa. Quatro anos depois, também ele seria ultrapassado. O país entrou de novo numa guerra civil, a “Patuleia”, que terminou em 1847. Costa Cabral regressou ao poder, embora de forma passageira. Sucedeu-lhe o marechal duque de Saldanha que, em 1851, inaugurou uma época com relativo progresso, designada como “Regeneração”.
Este movimento estabilizador foi propício ao desenvolvimento das atividades económicas, pelo menos com alguma segurança.

Outras necessidades e oportunidades se revelavam no mercado interno e nas relações com o exterior. Foram anunciados novos recursos da finança nacional e internacional e novas técnicas fabris impulsionadas pela investigação científica. As ligações entre produtores nacionais com os seus congéneres europeus, a formação de operários especializados e as exposições industriais eram oportunidades inadiáveis para os portugueses.

Urgências que levaram um grupo de homens de negócio, liderado pelo comerciante e industrial José Enes, a retomar a atividade da Associação, entretanto interrompida devido às convulsões políticas da época.

Pediram ao Governo a aprovação dos estatutos da entidade, mas desta vez com a designação de Associação Promotora da Indústria Fabril (APIF). O ministro das Obras Públicas, António de Serpa Pimentel, foi quem defendeu esta pretensão junto do poder executivo.

Em 20 de Março de 1860, D. Pedro V fez renascer a AIP, com o nome temporário de APIF. Recorde-que que entre 1837 e 1860, o país viveu um período de profundas divisões políticas, impedindo o regular funcionamento de instituições associativas, conotadas com as ideias liberais, que eram silenciadas pelos defensores de uma sociedade conservadora.

Os estatutos de 1860 indicam que a Associação deverá fazer “publicar todos os melhoramentos que se obtenham no país e fora dele; deverá contribuir para o aumento e progresso das indústrias fabris; promover a instrução do operário; organizar uma biblioteca, tendo em anexo um gabinete de leitura; e pugnar pela realização de uma exposição permanente de amostras de manufaturas industriais, devidamente classificadas”.

Por alvará de 29 de Março de 1886, a entidade recupera o seu nome de batismo – Associação Industrial Portuguesa –, 49 anos depois. Desta feita, com menos sócios, 168, em comparação com os 756 associados que a fizeram conhecer a luz do dia em 28 de Janeiro de 1837.

A AIP desempenhou na vida do país um papel de relevo nos primeiros anos da sua vida, correspondentes à segunda metade do século XIX, começando por organizar e representar os interesses dos industriais.

Apoiou e divulgou as atividades fabris portuguesas, promoveu a instrução pública, criou exposições e afirmou-se na defesa aduaneira da indústria, atuando nas diversas épocas e circunstâncias, como interlocutor entre os empresários que representava e os poderes instituídos.

O sector industrial, com uma posição proeminente, e pela voz da AIP, condicionou e delimitou a ação dos governantes, exigindo com a sua influência, proteção do poder político.

Recorreu a diversos instrumentos e estratégias para defender os interesses da classe empresarial, em especial dos industriais.

Fez-se representar em vários órgãos institucionais, como na Comissão Permanente de Pautas do Continente e na Comissão de Pautas Ultramarinas.

Alguns dos associados da AIP eram ministros do Estado, deputados, embaixadores, comendadores, conselheiros, viscondes, condes e funcionários públicos, agindo em salvaguarda dos interesses do setor em que eram intervenientes, o da indústria. Usaram as suas competências e funções, que se manifestaram de uma forma evidente nas pautas aduaneiras e numa política alfandegária protecionista.