“Verificamos que o financiamento é necessário e que há falhas de mercado. Investimentos com baixo níveis de maturidade tecnológica não são apreciados pela banca. Reestruturações é uma palavra maldita para a banca. Empréstimos com maturidades elevadas também não são apreciados pela banca. Financiamentos de internacionalização para compra de distribuidores são sujeitos a algumas reservas. Estamos, pois, numa situação em que é necessário um banco soberano”. Este foi o atual cenário traçado por José Eduardo Carvalho, presidente da Associação Industrial Portuguesa (AIP) na sua intervenção durante a conferência “Portugal e o Futuro: Que Reindustrialização”, organizada pela Ordem dos Economistas, dia 3 de junho, no ISEG.
Depois de enaltecer a equipa dirigente do Banco Português de Fomento (BPF) e de ter apontado como positivo que esta tenha “simplificado a apresentação de candidaturas, e reduzido a necessidade de quatro documentos para dois”, o presidente da AIP lembrou que “há algumas situações com que a nova equipa do BPF vai ter de se confrontar: 60 por cento do crédito garantido está em empresas de menor risco”. “Ora, não foi para isto que foram desenhados estes instrumentos financeiros com garantias soberanas. Tem de haver uma revisão mais equitativa e ponderada da gestão do stock de crédito emitido”, afirmou.
José Eduardo Carvalho fez um levantamento da situação: “verifica-se que as linhas vida correram bem, mas as linhas de capital não. No programa Consolidar, que é o mais importante, e que tinha uma dotação de 500 milhões de euros, e no qual havia grandes expectativas pelo facto de haver intermediários financeiros privados, pudesse ter um impacto significativo na economia, ou que tivesse um efeito multiplicador, o que vemos é que neste momento estão 43 operações aprovadas. E estas 43 operações aprovadas obrigam a uma participação do fundo de capitalização e resiliência de 265 milhões de euros, cerca de 56 por cento. Fui verificar qual o tipo de empresas em que já tinham ocorrido com êxito as operações e apurei, com espanto, que as Mid Caps estavam com 57 por cento e as médias empresas com 26 por cento. Ou seja, 80 por cento do crédito garantido estava no segmento que merece ser apoiado, mas não podemos abandonar outros segmentos que precisam mais.”
O presidente da AIP apontou as causas: “os intermediários financeiros têm tickets de operações e têm exigências de robustez do balanço dos bancos que as empresas que estão disponíveis para abrir o seu capital não conseguem cumprir. Verifica-se um paradoxo: as empresas que têm indicadores que são privilegiados pelos intermediários financeiros não querem abrir o capital, não precisam, têm condições de financiamento concorrenciais no banco; já para as empresas que precisam, os intermediários financeiros não querem desencadear as operações” e defendeu que “tem de haver um redesenho das operações de capital para que se consiga dar a volta a isto. É fundamental a existência de um banco soberano a garantir estes financiamentos.”
José Eduardo Carvalho integrou o painel “Portugal e o Futuro - Que Reindustrialização? Que Desafios Financeiros” juntamente com Fernando Alfaiate, presidente da Estrutura de Missão Recuperar Portugal, Manuel Caldeira Cabral, ex-Ministro da Economia, e Renato Carreira, partner da Delloite.