Grupo Sifucel, que atua no mercado das areias siliciosas, inaugura hoje uma fábrica em Rio Maior que vai permitir exportar vidro para ecrãs de telemóveis e tablets. Investimento de 30 milhões de euros vai criar 100 postos de trabalho qualificados, diz ao DN o chairman e acionista Manuel Pinheiro.
A Sifucel, empresa do grupo Parapedra que se dedica à extração e transformação de areias siliciosas, inaugura esta quarta-feira uma nova fábrica de cristobalite em Rio Maior. Em entrevista ao DN, o acionista e chairman do grupo Parapedra, Manuel Pinheiro, explica o investimento nesta fábrica que vai criar uma centena de postos de trabalho. O grupo fundado em 1979 deverá faturar mais de 80 milhões este ano, com 70% das vendas a destinarem-se à exportação. A nova fábrica de Rio Maior vai permitir reforçar a oferta para o mercado dos vidros de ecrãs de tablets e telemóveis, um dos segmentos em maior crescimento nesta área.
Começo por lhe pedir que explique a importância deste projeto para o grupo. Referiu há pouco que a ideia nasceu em 2018...
O facto de termos evoluído para este projeto, que foi pensado a partir de 2018, tem a ver com a evolução tecnológica. Estamos a falar de um produto que já tem um valor acrescentado elevado e que não é feito em todos os países. É um produto de uma inovação bastante elevada.
O que vos posiciona junto de clientes de um segmento mais alto.
Sim, a preocupação foi passar de um produto que era de valor acrescentado baixo, para um de valor acrescentado mais alto. Essa foi a nossa preocupação. Quando começámos a pensar nesta situação pensámos em transformar, portanto, matérias--primas para vidros de alta qualidade, como, por exemplo, vidros especiais para tablets e para telemóveis.
Esse segmento dos telemóveis é um novo mercado para a Sifucel?
É um novo segmento. Tem a ver com todo o tipo de aparelhos eletrónicos. Os painéis solares, por exemplo. Neste momento estamos a exportar muito para a Espanha e para a Itália, para o fabrico de painéis, ou seja, vidro para painéis soares.
Também pode ter aplicações na indústria aeroespacial?
Pode ter alguma aplicação. Nós temos pensado fora da caixa. Andamos com as malas na mão, com muitos voos, muitas escalas em aeroportos pelo mundo fora.
Portanto, não ficaram presos ao mercado nacional.
De maneira nenhuma. É o que costumo dizer a todas as pessoas que nos rodeiam, principalmente a parte comercial, é que nós, e não só, temos de sair da área do conforto e acreditar naquilo que fazemos. Temos sempre a possibilidade de vencer.
Os cerca de 100 postos de trabalho criados nesta fábrica correspondem a mão de obra qualificada?
Sim, é sobretudo trabalho qualificado. São pessoas com cursos superiores e outras que já têm experiência técnica. E nós também formamos as pessoas. São em 90% do distrito de Santarém.
O Estado pode ajudar mais as empresas neste tipo de projetos?
Acho que o Estado pode aligeirar mais algumas exigências. Temos um problema nesta área, neste país, que é o facto de estar tudo transformado em decretos. Nós hoje temos problemas gravíssimos com a parte ambiental. Por exemplo, neste momento, quem manda nesta área não são nem o Estado, nem os presidentes de câmara, mas são os técnicos da Agência Portuguesa do Ambiente (APA).
Ou seja, os reguladores.
Nem são os reguladores, são os técnicos dos reguladores. Há excesso de regulação.
Mas acha que é um fenómeno europeu ou apenas português?
Não, o problema é a Europa. E a Europa, atenção, é uma das coisas que digo aqui a toda a gente, a Europa tem que se começar a cuidar. Porque nós trabalhamos muito com a Turquia, a Índia, a China, os Estados Unidos e outras geografias onde não existe essa malha regulatória. E depois nós estamos a competir com umas exigências ambientais muito rigorosas contra empresas que na Índia ou na China, não as têm. Além disso, o nosso problema em Portugal, gravíssimo, que vejo no Estado, é a lentidão das decisões, da tomada de decisões. Os partidos têm que se organizar mais, pelo menos não quer dizer que seja bloco central, mas uma parte, ou seja, o Partido Socialista e o PSD têm que se unir mais para tomarem decisões.
Ou seja, na sua opinião, a ajuda que o Estado devia dar à economia era decidir rapidamente.
Decidir rapidamente e dar previsibilidade às empresas.
E a banca? Os bancos podem fazer mais no financiamento às empresas?
Penso que os bancos podem fazer mais alguma coisa, embora nós, aqui na nossa organização, não tenhamos esse problema, felizmente. Não temos esse problema.
Dos cerca de 80 milhões de euros que faturam por ano, quanto se deve aos mercados externos?
Este ano devemos ultrapassar os 80 milhões no grupo. Cerca de 70 por cento é para fora. Ou seja, se nós não tivéssemos essa aposta na exportação, sobretudo a partir de 2014, provavelmente não estaríamos aqui hoje a falar. É aquilo que digo aos meus amigos e mesmo a pessoas de outros setores: é necessário sair da área de conforto e ir para a exportação.
E a internacionalização, ou seja, abrir fábricas no estrangeiro?
Não vamos por aí. Nos anos 2008 e 2009, andei seriamente a pensar em investir no Brasil e em Angola e ainda tivemos alguns acordos feitos, mas depois desisti. Pensei duas vezes e não fui. E o que fiz em vez disso? Foi criar um produto com valor acrescentado, que pudesse ser feito cá. Nesta área, o que interessa é fazer-se aquilo que se faz de bem feito lá fora e nós competirmos com os que fazem bem feito. Nós podemos competir com eles.
Para concluir. Temos um grupo de natureza familiar, que pretende continuar a ser familiar?
Sim, é familiar. Embora tenha, felizmente tenha alguns grupos a querer entrar cá. Felizmente, nesta altura. É bom sinal.
Como é que vê o grupo Parapedra e a Sifucel dentro de 30 ou 50 anos?
Daqui por 50 anos não digo, porque não consigo ver tanto. Mas vejo que se continuar com esta evolução, quem cá estiver, que já não serei eu, deve pensar não em vender – sou contra vender –, mas deve pensar em abrir o capital a um investidor que traga valor acrescentado, por exemplo italiano ou alemão, que em alguns produtos estão um pouco mais à frente que nós.
Diário Notícias, 23 abril de 2025